‘Rotina de estudos não era tão pesada’, disse Larissa Oliveira Maia da Silva.
Resultado do vestibular foi divulgado pela Universidade nesta sexta (22).

1º lugar no vestibular da Ufes estudava (foto: reprodução/facebook)

“Minha rotina de estudos não era tão pesada, eu nunca estudei aos domingos”. Pode não parecer, mas a frase é de Larissa Oliveira Maia da Silva, de 18 anos, primeiro lugar geral do VestUfes 2016. Bolsista em uma escola particular de Vitória e tendo estudado apenas três horas por dia em casa, ela atingiu a pontuação de 45,52 e conquistou uma vaga no curso de medicina.

O resultado final do vestibular foi divulgado pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) nesta sexta-feira (22).  Ao todo, 17.652 candidatos fizeram as provas discursivas, mas nem todos haviam passado pela primeira etapa, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Todos tiveram direito a fazer a avaliação porque o resultado do Enem só saiu depois da aplicação da segunda etapa.

As cinco maiores pontuações foram todas obtidas por candidatos do curso de medicina. Entre os optantes, a maior nota foi 45,15 pontos, ficando no quarto lugar geral. Os cinco primeiros cursos com as maiores notas foram Medicina, Engenharia Mecânica, Engenharia de Computação, Engenharia Civil e Engenharia Elétrica.

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Resultado do Vestibular da UFES
na foto: Larissa Oliveira Maia da Silva, primeiro lugar geral no vest UFES
Foto: Fernando Ribeiro

Segunda vez
Larissa contou que essa foi a segunda vez que prestou vestibular para medicina. No ano passado, a diferença de 0,77 na nota a separou da vaga. No mesmo ano, a irmã gêmea dela, Isabela, passou para o curso de engenharia civil.

“Eu não sabia se ria pela minha irmã ou chorava por mim. Chorei durante uma semana”, contou Larissa.

Este ano, para compensar, a notícia de que ela havia sido aprovada veio através da irmã. Sem coragem de conferir os nomes na lista de aprovados, ela pediu que a gêmea procurasse.

“Eu estava na sala e ela no quarto. Ela começou a gritar ‘passou, passou!’. Mas na hora nós nem reparamos que eu era o primeiro lugar. Depois, quando vi, nem acreditei. Eu sabia que tinha ido bem, mas não tanto”, falou.

Rotina de estudos
Frustrada pela não aprovação no VestUfes de 2015, quando estudava seis horas por dia, além das horas que passava na sala de aula, Larissa decidiu alterar a rotina de estudos para o vestibular do ano seguinte.

“Para o vestibular de 2015, eu foquei muito nos estudos. E aí, na semana da prova, fiquei nervosa, passei mal e fui até para o hospital. Isso, por causa do stress, da ansiedade. A gente sofre muito, vê a prova como a nossa única oportunidade, como se fosse a última chance da nossa vida”, disse.

Com apoio dos pais e da irmã, ela decidiu que para a prova desse ano adotaria uma rotina mais leve, que desse espaço a atividades prazerosas e relaxantes. No caso, dela, orar e ir ao culto não poderiam ficar fora desse cronograma.

“Eu ia à escola de manhã, voltava, almoçava, dormia até as 15h, orava até as 15h30 e depois estudava até as 18h30. E aí eu tomava banho e ia para um curso de estudos da Bíblia na igreja, ou para o culto, dependendo do dia da semana”, explicou.

Os fins de semana raramente entravam no cronograma de estudos da jovem. “Nunca estudei aos domingos, até porque tinha culto, eu queria me distrair, nem pegava no caderno. Mas no sábado as vezes eu pegava, uns dois sábados por mês. A rotina de estudos não era tão pesada”, contou.

Mas as “poucas” horas de estudo não significam que o primeiro lugar geral veio de mão beijada para a estudante. Nas aulas, ela fazia questão de sentar nas primeiras fileiras, prestar muita atenção e tirar todas as dúvidas.

“Eu perguntava tudo, até as dúvidas mais bobas eu tirava, e tentava conversar o menos possível”, brincou.

Dificuldades financeiras
Tendo estudado da quinta à oitava série em escola pública, Larissa conta que a decisão de tentar cursar medicina só aconteceu porque ela conseguiu bolsa de 70% de desconto para fazer o Ensino Médio em uma escola particular em Vitória.

No início de 2015, quando soube que não havia passado no vestibular, uma das primeiras preocupações da estudante foi com a continuidade dos estudos.

“Eu estava confiante de que ia passar, não estava nem pensando em cursinho pré-vestibular. Quando não passei, pensei ‘e agora? não vou ter como pagar um cursinho em escola particular’. Mas aí, como obtive uma boa pontuação, ganhei bolsa novamente e pude estudar mais uma no na escola”, disse.

Mas a dificuldade financeira em arcar com as despesas relativas aos estudos já haviam se manifestado antes. No ano anterior, ela foi aprovada em duas universidades federais de outros estados, mas foi orientada pelos pais a não desistir da Ufes.

“Minha mãe não queria que eu fosse, por causa do custo. Foi tenso, porque eu tive que trocar o certo pelo duvidoso, ‘larguei’ duas faculdades para continuar estudando para uma”, disse Larissa.

Fé e religiosidade
A opção de deixar a ida à igreja e aos cultos de lado para estudar, nunca foi cogitada pela estudante. Para a mãe, a fé e a religiosidade foram fundamentais para que ela hoje ela estivesse com uma vaga reservada no curso de medicina da Ufes.

“Ela é uma menina muito dedicada e esse ano ela orou muito. Eu falava com ela: ‘busca a Deus em primeiro lugar, e aí Deus a louvou’”, contou a mãe de Larissa.

E a própria Larissa confirma: “Na prova de biologia, tinha uma questão que eu não sabia. E em uma prova dessas você não pode nem pensar em deixar em branco. Aí eu fui ao banheiro, orei e pedi a Deus que me ajudasse. Quando voltei pra sala, li a questão mais uma cinco vezes, e aí uma palavra me chamou atenção. Parece que aquilo ativou minha memória e eu escrevi a resposta”, contou.